“ENTÃO, VOCÊ SE DIVERTIU COM ISABELLE HOJE
À NOITE?” Clary,
com seu telefone enfiado contra sua orelha, se manobrando
cuidadosamente de uma longa barra para outra. As barras foram colocadas
a vinte pés4 acima nas vigas do sótão do Instituto, onde a sala de
treinamento era localizada. Andar nas barras significava te ensinar como se
equilibrar, Clary as odiava. Seu medo de altura fez o negócio todo doentio,
apesar do cabo flexível amarrado ao redor de sua cintura, que era
supostamente para mantê-la longe de bater no chão se ela caísse. “Você já
contou a ela sobre Maia?”
Simon fez um fraco ruído evasivo, que Clary sabia significar “não”.
Ela podia ouvir a música ao fundo, ela podia imaginá-lo deitado em sua
cama, o aparelho de som tocando suavemente enquanto ele falava com ela.
Ele soava cansado, aquele tipo de cansaço profundo que ela sabia que
significava que seu tom leve não refletia seu estado de humor. Ela tinha
perguntado se ele estava bem várias vezes no começo da conversa, mas ele
tinha afastado sua preocupação.
Ela bufou. “Você está brincando com fogo, Simon. Eu espero que
você saiba disso.”
“Eu não sei. Você realmente acha que isso é grande coisa”, Simon
soou melancólico. “Eu não tive uma única conversa com Isabelle — ou Maia
— sobre namorar exclusivamente.”
20 pés são quase sete metros de altura
“Deixe-me dizer algo sobre garotas”, Clary se sentou sobre a viga,
deixando suas pernas balançarem no ar. As janelas em meia-lua do sótão
estavam abertas, e o ar frio se derramava, resfriando sua pele suada. Ela
sempre pensou que os Caçadores de Sombras treinavam em seus flexíveis
trajes como couro, como isso provou, que foi para o último treinamento,
que envolvia armas. Para o tipo de treinamento que ela estava fazendo —
exercícios que significavam aumentar sua flexibilidade, velocidade, e senso
de equilíbrio — ela vestia uma camiseta leve e calças de cordão que
lembrava a ela uniformes de medicina.
“Mesmo se você não teve a conversa da exclusividade, elas ainda vão
estar bravas se descobrirem que você está saindo com alguém que elas
conhecem, e você não mencionou isso. É uma regra de namoro.”
“Bom, como era para eu saber dessa regra?”
“Todo mundo conhece essa regra.”
“Eu pensei que você deveria estar do meu lado.”
“Eu estou do seu lado!”
“Então por que você não está sendo mais compreensiva?”
Clary trocou o telefone para sua outra orelha e espreitou nas sombras
abaixo dela. Onde Jace estava? Ele tinha ido pegar outra corda e dito que
ele estaria de volta em cinco minutos. É claro, se ele a pegasse ao telefone
aqui em cima, ele provavelmente a mataria de qualquer modo. Ele
raramente era responsável pelo treinamento dela — que era normalmente
Maryse, Kadir, ou vários outros membros da Clave de Nova York tomando o
lugar, até que um substituto para o tutor anterior do Instituto, pudesse ser
encontrado — mas quando era ele, ele tomava isso seriamente. “Por que”,
ela disse. ”Seus problemas não são problemas de verdade. Você está saindo
com duas garotas bonitas de uma vez. Pense nisso. É como... problemas de
estrelas do rock.”
“Ter problemas de estrelas do rock pode ser o mais perto que vou
chegar de ser uma estrela de rock de verdade.”
“Ninguém mandou você chamar sua banda de Salacious Mold5, meu
amigo.”
“Nós somos agora Millenium Lint6”, Simon protestou.
Clary encolheu os ombros. “Olha, só pense nisso antes do casamento.
Se 5 Salacious Mold – algo que pode ser traduzido como Molde Lascivo ou
Forma Obscena. 6 Millenium Lint – Pode ser Fiapos do Milênio, Retalhos do
Milênio, ambas pensam que elas vão com você e descobrirem no casamento
que você está namorando com as duas, elas irão matá-lo.“ Ela se levantou.
“E então o casamento da minha mãe estará arruinado e ela vai te matar.
Então você vai estar morto duas vezes.”
“Eu nunca disse a nenhuma delas que eu estava indo ao casamento
com elas!” Simon pareceu em pânico.
“Sim, mas elas estão esperando isso de você. Esse é o porquê você
tem um namorado. Então você tem alguém para te levar para as funções
chatas.” Clary se moveu para a beira da barra, olhando abaixo para as
sombras iluminadas pela pedra enfeitiçada. Havia um velho circulo de
treinamento rabiscado a giz no chão; parecia como um alvo. “Além do mais,
eu tenho que pular dessa barra agora e possivelmente me arremessar para
minha horrível morte. Eu falo com você amanhã.“
“Eu tenho ensaio da banda as duas, lembra-se? Eu te vejo lá.”
“Até mais”, Ela desligou e enfiou o telefone em seu sutiã; as leves
roupas de treinamento não tinham nenhum bolso, então o que uma garota
faz?
“Então, você está planejando ficar ai a noite toda?” Jace entrou no
centro do alvo e olhou acima para ela. Ele estava usando um traje de
combate, não roupas de treinamento com Clary estava, e seu cabelo loiro
se sobressaia assustadoramente contra o negro. Ele tinha escurecido
levemente desde o fim do verão e era mais um dourado escuro do que
claro, que, Clary pensou, combinava com ele ainda mais. Isso a fez
absurdamente feliz, que ela agora tinha o conhecido mais, o suficiente para
notar as pequenas mudanças em sua aparência.
“Eu pensei que você viria aqui em cima.” Ela chamou. “Mudança de
planos?”
“Longa história.” Ele sorriu para ela. “Então? Você quer praticar
arremessos?”
Clary suspirou. Praticar arremessos envolvia se arremessar para fora
da barra, para o espaço vazio, e utilizando o cabo flexível para segurá-la,
enquanto ela se precipitava das paredes e se lançava acima e abaixo,
ensinando a si mesma a girar, chutar, e mergulhar sem se preocupar com
pisos duros e contusões. Ela tinha visto Jace fazer isso e ele parecia como
um anjo caindo enquanto ele o fazia, voando através do ar, movimentando-
se rapidamente e girando com bela graça dançarina.
Ela, por outro lado, se curvava como um saco de batatas tão logo o
chão se aproximava, e o fato que ela intelectualmente sabia que não estava
indo acertá-lo, não parecia fazer nenhuma diferença.
Ela estava começando a se perguntar que não se importava que
tivesse nascido uma Caçadora de Sombras; talvez fosse tarde demais para
ela ser feita um, ou pelo menos um totalmente funcional. Ou talvez o dom
que fazia ela e Jace o que eles eram, tinham sido de algum modo
distribuído desigualmente entre eles, então ele tinha recebido toda a graça
física, e ela tinha recebido — bem, nem um tanto disso.
“Vamos lá, Clary”, Jace disse. ”Pule.”
Ela fechou seus olhos e pulou. Por um momento ela se sentiu
pendurada suspensa, livre de tudo — então a gravidade assumiu e ela
mergulhou em direção ao chão. Instintivamente ela puxou seus braços e
pernas, mantendo seus olhos bem fechados. O cabo puxou firme e ela
ricocheteou, voando de volta acima, antes de cair de novo. Enquanto sua
velocidade diminuía, ela abriu seus olhos e se descobriu pendurada no fim
do cabo, cerca de dois metros acima de Jace. Ele estava sorrindo.
“Legal”, ele disse. ”Graciosa como um floco de neve caindo.”
“Eu estava gritando?”, ela perguntou, genuinamente curiosa. “Você
sabe, no caminho abaixo.”
Ele concordou. “Graças a Deus ninguém está em casa ou eles teriam
pensado que eu estava te assassinando.”
“Ha, Você não pode nem mesmo me alcançar.” Ela chutou uma perna
e girou preguiçosamente no ar.
Os olhos de Jace brilharam. “Quer apostar?”
Clary conhecia aquela expressão. “Não“, ela disse, rapidamente. ”O
que quer você vá fazer—“
Mas ele já tinha feito. Quando Jace se movia rápido, seus
movimentos individuais eram quase invisíveis — ela viu a mão dele ir para
seu cinto, e então algo piscou no ar. Ela ouviu o som de tecido rasgando
enquanto a corda acima de sua cabeça era cortada. Liberta, ela caiu livre,
muito surpresa para gritar — diretamente para os braços de Jace. A força o
golpeou para trás e eles se deitaram juntos em um dos colchonetes no
chão, Clary por cima dele. Ele sorriu para ela.
“Agora”, ele disse. “Está muito melhor. Você nem gritou.”
“Eu não tive a chance.” Ela estava sem fôlego, e não só por causa do
impacto da queda. Estar deitada em cima de Jace, sentindo seu corpo
contra o dela, fazia sua boca ficar seca e seu coração bater mais rápido. Ela
tinha pensado que talvez suas reações físicas a ele — as reações deles um
com o outro — diminuiriam com a familiaridade, mas não tinha acontecido.
Ao contrário, isso tinha ficado pior — ou melhor, ela supôs, dependendo de
como você pensava sobre isso.
Ele estava olhando acima para ela com olhos dourados escuros, ela
se perguntava se suas cores tinham se intensificado desde seu encontro
com Raziel, o Anjo, nas margens do Lago Lyn em Idris. Ela não podia
perguntar a ninguém. Embora todos soubessem que Valentine tinha
invocado o Anjo, ninguém além de Clary e Jace sabiam que Valentine tinha
apunhalado Jace através do coração, como parte da cerimônia de
invocação, e que Raziel tinha trazido ele de volta da morte. Eles tinham
concordado em nunca dizer a ninguém que Jace tinha morrido, mesmo por
um breve período. Era o segredo deles.
Ele se aproximou e empurrou o cabelo dela para trás de seu rosto.
“Estou brincando”, ele disse. “Você não é tão má. Você vai conseguir. Você
devia ter visto os primeiro arremessos que Alec fez. Eu lembro que ele se
chutou na cabeça uma vez.”
“Claro”, Clary disse. “Mas ele tinha provavelmente onze anos.“ Ela
olhou para ele. ”Acho que você sempre foi impressionante nessas
coisas.”
“Eu nasci impressionante.“ Ele acariciou sua bochecha com as pontas
de seus dedos, levemente o suficiente para fazê-la estremecer. Ela nada
disse; ele estava brincando, mas em um sentido, isso era verdade, Jace
tinha nascido para ser o que ele era. “Quanto tempo você vai ficar hoje à
noite?”
Ela sorriu um pouco. ”Nós terminamos com o treinamento?”
“Eu gostaria de pensar que nós terminamos com a parte da noite
onde isso é absolutamente necessário.” Ele estendeu a mão para puxá-la
para baixo, mas no momento a porta se abriu, e Isabelle veio se
aproximando, os saltos altos de suas botas estalando no chão de madeira
polida.
Captando a visão de Jace e Clary deitados sobre o chão, ela levantou
suas
sobrancelhas. “Se acariciando, pelo que vejo. Eu pensei que era para vocês
estarem treinando?”
“Ninguém disse que você tinha que entrar sem bater, Iz.” Jace não se
moveu, só virou sua cabeça para o lado para olhar para Isabelle com um
misto de aborrecimento e afeição. Clary, entretanto, lutava com seus pés,
alisando suas roupas amassadas.
“Essa é a sala de treinamento. É um lugar público.” Isabelle estava
tirando suas luvas, que eram de veludo vermelho brilhante. “Eu consegui
essas no Trash e Vaudeville. Promoção. Você não ama? Você não quer ter
um par?” Ela meneou seus dedos na direção deles.
“Eu não sei”, Jace disse. “Eu acho que elas não combinam com meu
traje.”
Isabelle fez uma careta para ele. “Você ouviu sobre o Caçador de Sombras
morto que eles descobriram no centro da cidade? O corpo estava todo
mutilado, então eles não sabem quem é ainda. Eu presumo que é onde
mamãe e papai foram.”
“Sim”, Jace disse, se sentando. “Eu corri até eles na saída.”
“Você não me disse isso”, Clary disse. Esse é o porquê você demorou
tanto conseguindo corda?”
Ele concordou. “Desculpe-me. Eu não queria que você se assustasse.”
“Ele quer dizer”, Isabelle disse. ”Que ele não queria estragar o clima
romântico.” Ela mordeu seu lábio. ”Só espero que não seja ninguém que
conheçamos.”
“Eu não acho que possa ter sido. O corpo estava no rio — estado lá
há vários dias. Se tivesse sido alguém que nós conhecêssemos, nós
teríamos percebido que ele estava faltando.“ Jace empurrou seu cabelo para
trás de suas orelhas. Ele estava olhando para Isabelle com um pouco de
impaciência. Clary pensou, como se ele estivesse chateado por ela ter
trazido isso à tona. Ela desejou que ele tivesse dito a ela mais cedo, mesmo
que isso estragasse o clima. Muito do que ele fazia, que todos eles faziam,
Clary sabia, os trazia em frequência em contato com a realidade da morte.
Todos os Lightwoods estavam, em seus próprios modos, ainda enlutados
pela perda de seu jovem menino, Max, que tinha morrido simplesmente por
estar no lugar errado e na hora errada. Isso era estranho. Jace havia
aceitado a decisão dela de deixar o segundo grau e começar o treinamento
sem reclamação, mas ele se esquivava de discutir os perigos de uma vida
de Caçador de Sombras com ela.
“Eu vou me vestir”, ela anunciou, e seguiu para a porta que dava
para um pequeno vestiário anexo a área de treinamento. Ele era muito
simples: paredes de madeira clara, um espelho, um chuveiro, e ganchos
para as roupas. Toalhas estavam empilhadas ordenadamente no banco de
madeira ao lado da porta. Clary tomou banho rapidamente e colocou suas
roupas diárias — meia calça, botas, saia jeans e o novo suéter rosa.
Olhando para si mesma no espelho, ela viu que havia um buraco na manga
do suéter, e seu úmido e ondulado cabelo ruivo era um emaranhado
desordenado. Ela nunca pareceria perfeitamente preparada como Isabelle
sempre fazia, mas Jace parecia não se importar.
No momento em que ela voltou a sala de treinamento, Isabelle e Jace
tinham deixado o tópico de Caçadores de Sombras mortos para trás e
mudado para algo que Jace, aparentemente, descobriu ainda mais
assustador: o encontro de Isabelle com Simon.
“Eu não acredito que ele levou você a um restaurante de verdade”,
Jace estava de pé agora, empurrando os colchonetes e equipamentos de
treinamento, enquanto Isabelle se inclinava contra a parede e brincava com
suas novas luvas. “Pensei que a ideia dele de um encontro seria fazer você
assisti-lo jogar Word of Warcraft com seus amigos nerds.”
“Eu”, Clary apontou, “sou uma dos amigos nerds dele, obrigada.”
Jace sorriu para ela.
“Não era realmente um restaurante. Era mais para um vagão
restaurante. Com sopa rosa que ele queria que eu experimentasse”,
Isabelle disse pensativamente. ”Ele foi muito doce.”
Clary sentiu-se instantaneamente culpada por não dizer a ela — ou
Jace — sobre Maia. “Ele disse que vocês se divertiram.”
O olhar de Isabelle flutuou sobre ela. Havia uma peculiar propriedade
na expressão de Isabelle, como se ela estivesse escondendo algo, mas se
foi antes que Clary pudesse ter certeza se tinha estado lá.
“Você falou com ele?”
“Sim, ele me ligou a poucos minutos atrás. Só para checar.“ Clary
deu de ombros.
“Sei”, Isabelle disse, sua voz de repente enérgica e fria. ”Bem, como
eu digo, ele é muito doce. Mas talvez um pouco doce demais. Isso pode ser
chato.” Ela enfiou suas luvas em seus bolsos. “Além do mais, não é uma
coisa permanente. É só por diversão por agora.”
A culpa de Clary esvaiu-se. “Vocês já falaram, você sabe, namorar
com exclusividade?”
Isabelle pareceu horrorizada. “É claro que não.” Ela em seguida
bocejou, esticando seus braços como um gato por sobre sua cabeça. “Ok,
para cama. Vejo vocês depois, pombinhos.”
Ela partiu, deixando uma nuvem de perfume de Jasmim no seu
caminho.
Jace olhou para Clary. Ele tinha começado a desafivelar sua
vestimenta, que fechava em seus pulsos e costas, formando um escudo
protetor sobre suas roupas. “Você tem que ir para casa?”
Clary concordou relutantemente. Conseguir que sua mãe concordasse
em deixá-la prosseguir no treinamento de Caçador de Sombras tinha sido
uma longa e desagradável discussão em primeiro lugar. Jocelyn tinha batido
o pé, dizendo que ela tinha gastado sua vida tentando manter Clary fora da
cultura de Caçador de Sombras, que ela via como perigosa — não apenas
violenta, ela argumentou, mas separatista e cruel. Clary argumentou que as
coisas tinham mudado desde que Jocelyn tinha sido uma garota, e de
qualquer modo, Clary precisava saber como defender a si mesma.
“Eu espero que isso não seja só por causa do Jace”, Jocelyn tinha
dito, finalmente. “Eu sei que quando você esta apaixonado por alguém,
você quer estar onde eles estão e fazer o que eles fazem, mas Clary—“
“Eu não sou você”, Clary tinha dito, lutando para controlar sua raiva.
”Os Caçadores de Sombras não são o Ciclo, e Jace não é Valentine.”
“Eu não disse nada sobre Valentine.”
“É o que você estava pensando”, Clary disse. “Talvez Valentine tenha
criado Jace, mas ele não é nada como ele.”
“Bem, eu espero que não”, Jocelyn tinha dito suavemente. ”Pelo bem
de todos nós.”
Eventualmente, ela tinha cedido, mas com algumas regras: Clary não
ia morar no Instituto, mas com Luke e sua mãe; Jocelyn receberia relatórios
de
progresso semanais de Maryse para lhe assegurar que Clary estava
aprendendo e não só, Clary supôs, provocando Jace o dia todo, ou o que
quer que ela estivesse preocupada. E Clary não ia passar a noite no
Instituto — nunca. “Nada de pernoitar onde seu namorado mora”, Jocelyn
disse com firmeza. “Eu não me importo se é o Instituto. Não.”
Namorado. Era ainda um choque, ouvir a palavra. Por tanto tempo
isso tinha sido uma total impossibilidade, que Jace sequer seria seu
namorado, que eles poderiam ser um ao outro nada além de irmão e irmã,
e isso era muito difícil e horrível de se encarar — nunca ver um ao outro de
novo, eles tinham decidido, seria melhor que aquilo, e que seria como
morrer.
E em seguida, por um milagre, eles tinham ficado livres. Agora isso
fazia seis semanas, mas Clary ainda nunca estava cansada da palavra.
“Eu tenho que ir para casa”, ela disse. ”São quase onze e minha mãe
enlouquece se eu fico aqui depois das dez.”
“Tudo bem”, Jace soltou seu traje, ou pelo menos a parte de cima
dele sobre o banco. Ele vestia uma camiseta fina por baixo; Clary pode ver
suas marcas através dela, como tinta sangrando através de papel molhado.
“Eu te acompanharei.”
O Instituto estava silencioso enquanto eles caminhavam através dele.
Não haviam Caçadores de Sombras vindos de outras cidades ficando agora,
e com Hodge e Max que se foram para sempre, e Alec com Magnus, Clary
sentia como se os Lightwoods remanescentes fossem como convidados em
um hotel quase vazio. Ela desejou que os outros membros da Clave viessem
mais frequentemente, mas ela supôs que todos estavam dando aos
Lightwoods tempo neste momento. Tempo para se lembrar de Max, e
tempo para esquecer.
“Então, você ouviu algo sobre Alec e Magnus ultimamente?”, ela
perguntou. “Eles estão se divertindo?”
“Parece que sim”, Jace pegou seu telefone em seu bolso e estendeu
para ela. ”Alec continua me mandando fotos chatas. Um monte de textos
como, “Eu queria que você estivesse aqui, exceto que não de verdade.”
“Bem, você não pode culpá-lo. Era para ser umas férias românticas.”
Ela movimentou através das fotos no telefone de Jace e riu. Alec e Magnus
em pé em frente à Torre Eiffel, Alec vestindo jeans como sempre e Magnus
vestindo um casaco de pescador listrado, calças de couro, e uma boina
maluca. Nos jardins Boboli7, Alec ainda estava usando jeans, e Magnus
estava usando um enorme manto veneziano e um quepe de gondoleiro. Ele
parecia como o Fantasma da Ópera, em frente ao Prado, ele estava usando
um cintilante casaco de toureiro e botas de plataforma, enquanto Alec
aparecia calmamente alimentando um pombo ao fundo.
“Eu vou tirar isso de você antes que você chegue a parte da India”,
Jace disse, recuperando seu telefone. “Magnus em um sári. Algumas coisas
você nunca se esquece.”
Clary riu. Eles tinham alcançado o elevador que abriu seu portão
rangendo, quando Jace empurrou o botão de chamar. Ela entrou e Jace a
seguiu. No momento que o elevador começou a descer — Clary achou que
ela nunca se acostumaria ao recuar inicial antes que começasse a descer —
ele se moveu em direção a Clary na escuridão, e puxou ela para mais perto.
Ela colocou suas mãos contra o peito dele, sentindo os músculos fortes
debaixo de sua camiseta, a batida de seu coração embaixo dela. Na luz
sombreada, os olhos dele brilharam. “Lamento que eu não possa ficar”, ela
sussurrou.
“Não se desculpe”, Havia um tom irregular em suas palavras que a
surpreendeu. “Jocelyn não quer que você se torne como eu. Eu não a culpo
por isso.”
“Jace”, ela disse, um pouco perplexa pela amargura em sua voz,
”Você está bem?”
Ao invés de responder, ele a beijou, a puxando firme contra ele. Seu
corpo pressionou o dela contra a parede, o metal do espelho frio contra
suas costas, as mãos dele deslizaram ao redor de sua cintura. Ela sempre
amava o modo que ele a segurava. Cuidadoso, mas também não muito
gentil, não tão delicado, que ela sempre sentia que ele estava mais sob
controle do que ela estava. Nenhum dos dois podia controlar como eles se
sentiam um sobre o outro, e ela gostava disso, gostava do modo como o
coração dele martelava contra o dela, gostava do modo que ele murmurava
contra sua boca quando ela o beijava de volta.
O elevador veio em uma parada ruidosa e a grade abriu. Além dela,
ela podia ver a nave vazia da catedral, pedras enfeitiçadas alumiando em
uma fila de 7 Boboli Gardens – Fica na Itália.
Candelabros no corredor central. Ela se agarrou a Jace, feliz por que
havia pouca luz no elevador então ela não podia ver seu próprio rosto
queimando no espelho.
“Talvez eu possa ficar”, ela sussurrou. “Só mais um pouco.”
Ele não disse nada. Ela podia sentir a tensão nele, e ela mesma se
enrijecer — era mais do que apenas a tensão do desejo. Ele estava
tremendo, seu corpo inteiro tremendo enquanto ele enterrava seu rosto na
dobra de seu pescoço.
“Jace”, ela disse.
Ele então a soltou, subitamente, e deu um passo para trás. Suas
bochechas estavam coradas, seus olhos febrilmente brilhantes. “Não”, ele
disse. “Eu não quero dar a sua mãe nenhum motivo para não gostar de
mim.” Havia um tom em sua voz. “Ela já pensa que eu sou a segunda vinda
de meu pai—“
Ele se interrompeu, antes que Clary pudesse dizer: Valentine não era
seu pai. Ele era geralmente muito cuidadoso ao se referir a Valentine
Morgenstern pelo nome, nunca como meu pai — quando ele mencionava
Valentine. Geralmente eles se afastavam do tópico, e Clary nunca tinha
admitido a Jace que sua mãe se preocupava que ele fosse secretamente
como Valentine, sabendo que até mesmo a sugestão o machucaria
bastante. Na maioria das vezes ela fazia tudo que podia para manter os
dois separados.
Ele se afastou antes que ela pudesse dizer alguma coisa, e puxou
aberta a grade do elevador. “Eu te amo, Clary”, ele disse, sem olhar para
ela. Ele estava olhando para dentro da igreja, para as fileiras de velas
iluminadas, seus reflexos dourados refletidos em seus olhos. “Mais do que
eu jamais—“ Ele se interrompeu. ”Deus. Mas do que eu provavelmente
deveria. Você sabe disso, não é?”
Ela saiu do elevador e se virou para encará-lo. Havia uma centena de
coisas que ela queria dizer, mas ele já estava olhando para longe dela,
empurrando o botão que traria o elevador de volta ao piso do Instituto. Ela
começou a protestar, mas o elevador já estava se movendo, as portas
fechando atrás, enquanto ele chacoalhava seu caminho de volta acima. Elas
fecharam com um clique e ela olhou para elas por um momento; o Anjo
estava pintado na superfície dele, asas estendidas, olhos elevados. O Anjo
estava pintado sobre tudo.
Sua voz ecoou dissonantemente no salão vazio quando ela falou.
“Eu também te amo”, ela disse.
com seu telefone enfiado contra sua orelha, se manobrando
cuidadosamente de uma longa barra para outra. As barras foram colocadas
a vinte pés4 acima nas vigas do sótão do Instituto, onde a sala de
treinamento era localizada. Andar nas barras significava te ensinar como se
equilibrar, Clary as odiava. Seu medo de altura fez o negócio todo doentio,
apesar do cabo flexível amarrado ao redor de sua cintura, que era
supostamente para mantê-la longe de bater no chão se ela caísse. “Você já
contou a ela sobre Maia?”
Simon fez um fraco ruído evasivo, que Clary sabia significar “não”.
Ela podia ouvir a música ao fundo, ela podia imaginá-lo deitado em sua
cama, o aparelho de som tocando suavemente enquanto ele falava com ela.
Ele soava cansado, aquele tipo de cansaço profundo que ela sabia que
significava que seu tom leve não refletia seu estado de humor. Ela tinha
perguntado se ele estava bem várias vezes no começo da conversa, mas ele
tinha afastado sua preocupação.
Ela bufou. “Você está brincando com fogo, Simon. Eu espero que
você saiba disso.”
“Eu não sei. Você realmente acha que isso é grande coisa”, Simon
soou melancólico. “Eu não tive uma única conversa com Isabelle — ou Maia
— sobre namorar exclusivamente.”
20 pés são quase sete metros de altura
“Deixe-me dizer algo sobre garotas”, Clary se sentou sobre a viga,
deixando suas pernas balançarem no ar. As janelas em meia-lua do sótão
estavam abertas, e o ar frio se derramava, resfriando sua pele suada. Ela
sempre pensou que os Caçadores de Sombras treinavam em seus flexíveis
trajes como couro, como isso provou, que foi para o último treinamento,
que envolvia armas. Para o tipo de treinamento que ela estava fazendo —
exercícios que significavam aumentar sua flexibilidade, velocidade, e senso
de equilíbrio — ela vestia uma camiseta leve e calças de cordão que
lembrava a ela uniformes de medicina.
“Mesmo se você não teve a conversa da exclusividade, elas ainda vão
estar bravas se descobrirem que você está saindo com alguém que elas
conhecem, e você não mencionou isso. É uma regra de namoro.”
“Bom, como era para eu saber dessa regra?”
“Todo mundo conhece essa regra.”
“Eu pensei que você deveria estar do meu lado.”
“Eu estou do seu lado!”
“Então por que você não está sendo mais compreensiva?”
Clary trocou o telefone para sua outra orelha e espreitou nas sombras
abaixo dela. Onde Jace estava? Ele tinha ido pegar outra corda e dito que
ele estaria de volta em cinco minutos. É claro, se ele a pegasse ao telefone
aqui em cima, ele provavelmente a mataria de qualquer modo. Ele
raramente era responsável pelo treinamento dela — que era normalmente
Maryse, Kadir, ou vários outros membros da Clave de Nova York tomando o
lugar, até que um substituto para o tutor anterior do Instituto, pudesse ser
encontrado — mas quando era ele, ele tomava isso seriamente. “Por que”,
ela disse. ”Seus problemas não são problemas de verdade. Você está saindo
com duas garotas bonitas de uma vez. Pense nisso. É como... problemas de
estrelas do rock.”
“Ter problemas de estrelas do rock pode ser o mais perto que vou
chegar de ser uma estrela de rock de verdade.”
“Ninguém mandou você chamar sua banda de Salacious Mold5, meu
amigo.”
“Nós somos agora Millenium Lint6”, Simon protestou.
Clary encolheu os ombros. “Olha, só pense nisso antes do casamento.
Se 5 Salacious Mold – algo que pode ser traduzido como Molde Lascivo ou
Forma Obscena. 6 Millenium Lint – Pode ser Fiapos do Milênio, Retalhos do
Milênio, ambas pensam que elas vão com você e descobrirem no casamento
que você está namorando com as duas, elas irão matá-lo.“ Ela se levantou.
“E então o casamento da minha mãe estará arruinado e ela vai te matar.
Então você vai estar morto duas vezes.”
“Eu nunca disse a nenhuma delas que eu estava indo ao casamento
com elas!” Simon pareceu em pânico.
“Sim, mas elas estão esperando isso de você. Esse é o porquê você
tem um namorado. Então você tem alguém para te levar para as funções
chatas.” Clary se moveu para a beira da barra, olhando abaixo para as
sombras iluminadas pela pedra enfeitiçada. Havia um velho circulo de
treinamento rabiscado a giz no chão; parecia como um alvo. “Além do mais,
eu tenho que pular dessa barra agora e possivelmente me arremessar para
minha horrível morte. Eu falo com você amanhã.“
“Eu tenho ensaio da banda as duas, lembra-se? Eu te vejo lá.”
“Até mais”, Ela desligou e enfiou o telefone em seu sutiã; as leves
roupas de treinamento não tinham nenhum bolso, então o que uma garota
faz?
“Então, você está planejando ficar ai a noite toda?” Jace entrou no
centro do alvo e olhou acima para ela. Ele estava usando um traje de
combate, não roupas de treinamento com Clary estava, e seu cabelo loiro
se sobressaia assustadoramente contra o negro. Ele tinha escurecido
levemente desde o fim do verão e era mais um dourado escuro do que
claro, que, Clary pensou, combinava com ele ainda mais. Isso a fez
absurdamente feliz, que ela agora tinha o conhecido mais, o suficiente para
notar as pequenas mudanças em sua aparência.
“Eu pensei que você viria aqui em cima.” Ela chamou. “Mudança de
planos?”
“Longa história.” Ele sorriu para ela. “Então? Você quer praticar
arremessos?”
Clary suspirou. Praticar arremessos envolvia se arremessar para fora
da barra, para o espaço vazio, e utilizando o cabo flexível para segurá-la,
enquanto ela se precipitava das paredes e se lançava acima e abaixo,
ensinando a si mesma a girar, chutar, e mergulhar sem se preocupar com
pisos duros e contusões. Ela tinha visto Jace fazer isso e ele parecia como
um anjo caindo enquanto ele o fazia, voando através do ar, movimentando-
se rapidamente e girando com bela graça dançarina.
Ela, por outro lado, se curvava como um saco de batatas tão logo o
chão se aproximava, e o fato que ela intelectualmente sabia que não estava
indo acertá-lo, não parecia fazer nenhuma diferença.
Ela estava começando a se perguntar que não se importava que
tivesse nascido uma Caçadora de Sombras; talvez fosse tarde demais para
ela ser feita um, ou pelo menos um totalmente funcional. Ou talvez o dom
que fazia ela e Jace o que eles eram, tinham sido de algum modo
distribuído desigualmente entre eles, então ele tinha recebido toda a graça
física, e ela tinha recebido — bem, nem um tanto disso.
“Vamos lá, Clary”, Jace disse. ”Pule.”
Ela fechou seus olhos e pulou. Por um momento ela se sentiu
pendurada suspensa, livre de tudo — então a gravidade assumiu e ela
mergulhou em direção ao chão. Instintivamente ela puxou seus braços e
pernas, mantendo seus olhos bem fechados. O cabo puxou firme e ela
ricocheteou, voando de volta acima, antes de cair de novo. Enquanto sua
velocidade diminuía, ela abriu seus olhos e se descobriu pendurada no fim
do cabo, cerca de dois metros acima de Jace. Ele estava sorrindo.
“Legal”, ele disse. ”Graciosa como um floco de neve caindo.”
“Eu estava gritando?”, ela perguntou, genuinamente curiosa. “Você
sabe, no caminho abaixo.”
Ele concordou. “Graças a Deus ninguém está em casa ou eles teriam
pensado que eu estava te assassinando.”
“Ha, Você não pode nem mesmo me alcançar.” Ela chutou uma perna
e girou preguiçosamente no ar.
Os olhos de Jace brilharam. “Quer apostar?”
Clary conhecia aquela expressão. “Não“, ela disse, rapidamente. ”O
que quer você vá fazer—“
Mas ele já tinha feito. Quando Jace se movia rápido, seus
movimentos individuais eram quase invisíveis — ela viu a mão dele ir para
seu cinto, e então algo piscou no ar. Ela ouviu o som de tecido rasgando
enquanto a corda acima de sua cabeça era cortada. Liberta, ela caiu livre,
muito surpresa para gritar — diretamente para os braços de Jace. A força o
golpeou para trás e eles se deitaram juntos em um dos colchonetes no
chão, Clary por cima dele. Ele sorriu para ela.
“Agora”, ele disse. “Está muito melhor. Você nem gritou.”
“Eu não tive a chance.” Ela estava sem fôlego, e não só por causa do
impacto da queda. Estar deitada em cima de Jace, sentindo seu corpo
contra o dela, fazia sua boca ficar seca e seu coração bater mais rápido. Ela
tinha pensado que talvez suas reações físicas a ele — as reações deles um
com o outro — diminuiriam com a familiaridade, mas não tinha acontecido.
Ao contrário, isso tinha ficado pior — ou melhor, ela supôs, dependendo de
como você pensava sobre isso.
Ele estava olhando acima para ela com olhos dourados escuros, ela
se perguntava se suas cores tinham se intensificado desde seu encontro
com Raziel, o Anjo, nas margens do Lago Lyn em Idris. Ela não podia
perguntar a ninguém. Embora todos soubessem que Valentine tinha
invocado o Anjo, ninguém além de Clary e Jace sabiam que Valentine tinha
apunhalado Jace através do coração, como parte da cerimônia de
invocação, e que Raziel tinha trazido ele de volta da morte. Eles tinham
concordado em nunca dizer a ninguém que Jace tinha morrido, mesmo por
um breve período. Era o segredo deles.
Ele se aproximou e empurrou o cabelo dela para trás de seu rosto.
“Estou brincando”, ele disse. “Você não é tão má. Você vai conseguir. Você
devia ter visto os primeiro arremessos que Alec fez. Eu lembro que ele se
chutou na cabeça uma vez.”
“Claro”, Clary disse. “Mas ele tinha provavelmente onze anos.“ Ela
olhou para ele. ”Acho que você sempre foi impressionante nessas
coisas.”
“Eu nasci impressionante.“ Ele acariciou sua bochecha com as pontas
de seus dedos, levemente o suficiente para fazê-la estremecer. Ela nada
disse; ele estava brincando, mas em um sentido, isso era verdade, Jace
tinha nascido para ser o que ele era. “Quanto tempo você vai ficar hoje à
noite?”
Ela sorriu um pouco. ”Nós terminamos com o treinamento?”
“Eu gostaria de pensar que nós terminamos com a parte da noite
onde isso é absolutamente necessário.” Ele estendeu a mão para puxá-la
para baixo, mas no momento a porta se abriu, e Isabelle veio se
aproximando, os saltos altos de suas botas estalando no chão de madeira
polida.
Captando a visão de Jace e Clary deitados sobre o chão, ela levantou
suas
sobrancelhas. “Se acariciando, pelo que vejo. Eu pensei que era para vocês
estarem treinando?”
“Ninguém disse que você tinha que entrar sem bater, Iz.” Jace não se
moveu, só virou sua cabeça para o lado para olhar para Isabelle com um
misto de aborrecimento e afeição. Clary, entretanto, lutava com seus pés,
alisando suas roupas amassadas.
“Essa é a sala de treinamento. É um lugar público.” Isabelle estava
tirando suas luvas, que eram de veludo vermelho brilhante. “Eu consegui
essas no Trash e Vaudeville. Promoção. Você não ama? Você não quer ter
um par?” Ela meneou seus dedos na direção deles.
“Eu não sei”, Jace disse. “Eu acho que elas não combinam com meu
traje.”
Isabelle fez uma careta para ele. “Você ouviu sobre o Caçador de Sombras
morto que eles descobriram no centro da cidade? O corpo estava todo
mutilado, então eles não sabem quem é ainda. Eu presumo que é onde
mamãe e papai foram.”
“Sim”, Jace disse, se sentando. “Eu corri até eles na saída.”
“Você não me disse isso”, Clary disse. Esse é o porquê você demorou
tanto conseguindo corda?”
Ele concordou. “Desculpe-me. Eu não queria que você se assustasse.”
“Ele quer dizer”, Isabelle disse. ”Que ele não queria estragar o clima
romântico.” Ela mordeu seu lábio. ”Só espero que não seja ninguém que
conheçamos.”
“Eu não acho que possa ter sido. O corpo estava no rio — estado lá
há vários dias. Se tivesse sido alguém que nós conhecêssemos, nós
teríamos percebido que ele estava faltando.“ Jace empurrou seu cabelo para
trás de suas orelhas. Ele estava olhando para Isabelle com um pouco de
impaciência. Clary pensou, como se ele estivesse chateado por ela ter
trazido isso à tona. Ela desejou que ele tivesse dito a ela mais cedo, mesmo
que isso estragasse o clima. Muito do que ele fazia, que todos eles faziam,
Clary sabia, os trazia em frequência em contato com a realidade da morte.
Todos os Lightwoods estavam, em seus próprios modos, ainda enlutados
pela perda de seu jovem menino, Max, que tinha morrido simplesmente por
estar no lugar errado e na hora errada. Isso era estranho. Jace havia
aceitado a decisão dela de deixar o segundo grau e começar o treinamento
sem reclamação, mas ele se esquivava de discutir os perigos de uma vida
de Caçador de Sombras com ela.
“Eu vou me vestir”, ela anunciou, e seguiu para a porta que dava
para um pequeno vestiário anexo a área de treinamento. Ele era muito
simples: paredes de madeira clara, um espelho, um chuveiro, e ganchos
para as roupas. Toalhas estavam empilhadas ordenadamente no banco de
madeira ao lado da porta. Clary tomou banho rapidamente e colocou suas
roupas diárias — meia calça, botas, saia jeans e o novo suéter rosa.
Olhando para si mesma no espelho, ela viu que havia um buraco na manga
do suéter, e seu úmido e ondulado cabelo ruivo era um emaranhado
desordenado. Ela nunca pareceria perfeitamente preparada como Isabelle
sempre fazia, mas Jace parecia não se importar.
No momento em que ela voltou a sala de treinamento, Isabelle e Jace
tinham deixado o tópico de Caçadores de Sombras mortos para trás e
mudado para algo que Jace, aparentemente, descobriu ainda mais
assustador: o encontro de Isabelle com Simon.
“Eu não acredito que ele levou você a um restaurante de verdade”,
Jace estava de pé agora, empurrando os colchonetes e equipamentos de
treinamento, enquanto Isabelle se inclinava contra a parede e brincava com
suas novas luvas. “Pensei que a ideia dele de um encontro seria fazer você
assisti-lo jogar Word of Warcraft com seus amigos nerds.”
“Eu”, Clary apontou, “sou uma dos amigos nerds dele, obrigada.”
Jace sorriu para ela.
“Não era realmente um restaurante. Era mais para um vagão
restaurante. Com sopa rosa que ele queria que eu experimentasse”,
Isabelle disse pensativamente. ”Ele foi muito doce.”
Clary sentiu-se instantaneamente culpada por não dizer a ela — ou
Jace — sobre Maia. “Ele disse que vocês se divertiram.”
O olhar de Isabelle flutuou sobre ela. Havia uma peculiar propriedade
na expressão de Isabelle, como se ela estivesse escondendo algo, mas se
foi antes que Clary pudesse ter certeza se tinha estado lá.
“Você falou com ele?”
“Sim, ele me ligou a poucos minutos atrás. Só para checar.“ Clary
deu de ombros.
“Sei”, Isabelle disse, sua voz de repente enérgica e fria. ”Bem, como
eu digo, ele é muito doce. Mas talvez um pouco doce demais. Isso pode ser
chato.” Ela enfiou suas luvas em seus bolsos. “Além do mais, não é uma
coisa permanente. É só por diversão por agora.”
A culpa de Clary esvaiu-se. “Vocês já falaram, você sabe, namorar
com exclusividade?”
Isabelle pareceu horrorizada. “É claro que não.” Ela em seguida
bocejou, esticando seus braços como um gato por sobre sua cabeça. “Ok,
para cama. Vejo vocês depois, pombinhos.”
Ela partiu, deixando uma nuvem de perfume de Jasmim no seu
caminho.
Jace olhou para Clary. Ele tinha começado a desafivelar sua
vestimenta, que fechava em seus pulsos e costas, formando um escudo
protetor sobre suas roupas. “Você tem que ir para casa?”
Clary concordou relutantemente. Conseguir que sua mãe concordasse
em deixá-la prosseguir no treinamento de Caçador de Sombras tinha sido
uma longa e desagradável discussão em primeiro lugar. Jocelyn tinha batido
o pé, dizendo que ela tinha gastado sua vida tentando manter Clary fora da
cultura de Caçador de Sombras, que ela via como perigosa — não apenas
violenta, ela argumentou, mas separatista e cruel. Clary argumentou que as
coisas tinham mudado desde que Jocelyn tinha sido uma garota, e de
qualquer modo, Clary precisava saber como defender a si mesma.
“Eu espero que isso não seja só por causa do Jace”, Jocelyn tinha
dito, finalmente. “Eu sei que quando você esta apaixonado por alguém,
você quer estar onde eles estão e fazer o que eles fazem, mas Clary—“
“Eu não sou você”, Clary tinha dito, lutando para controlar sua raiva.
”Os Caçadores de Sombras não são o Ciclo, e Jace não é Valentine.”
“Eu não disse nada sobre Valentine.”
“É o que você estava pensando”, Clary disse. “Talvez Valentine tenha
criado Jace, mas ele não é nada como ele.”
“Bem, eu espero que não”, Jocelyn tinha dito suavemente. ”Pelo bem
de todos nós.”
Eventualmente, ela tinha cedido, mas com algumas regras: Clary não
ia morar no Instituto, mas com Luke e sua mãe; Jocelyn receberia relatórios
de
progresso semanais de Maryse para lhe assegurar que Clary estava
aprendendo e não só, Clary supôs, provocando Jace o dia todo, ou o que
quer que ela estivesse preocupada. E Clary não ia passar a noite no
Instituto — nunca. “Nada de pernoitar onde seu namorado mora”, Jocelyn
disse com firmeza. “Eu não me importo se é o Instituto. Não.”
Namorado. Era ainda um choque, ouvir a palavra. Por tanto tempo
isso tinha sido uma total impossibilidade, que Jace sequer seria seu
namorado, que eles poderiam ser um ao outro nada além de irmão e irmã,
e isso era muito difícil e horrível de se encarar — nunca ver um ao outro de
novo, eles tinham decidido, seria melhor que aquilo, e que seria como
morrer.
E em seguida, por um milagre, eles tinham ficado livres. Agora isso
fazia seis semanas, mas Clary ainda nunca estava cansada da palavra.
“Eu tenho que ir para casa”, ela disse. ”São quase onze e minha mãe
enlouquece se eu fico aqui depois das dez.”
“Tudo bem”, Jace soltou seu traje, ou pelo menos a parte de cima
dele sobre o banco. Ele vestia uma camiseta fina por baixo; Clary pode ver
suas marcas através dela, como tinta sangrando através de papel molhado.
“Eu te acompanharei.”
O Instituto estava silencioso enquanto eles caminhavam através dele.
Não haviam Caçadores de Sombras vindos de outras cidades ficando agora,
e com Hodge e Max que se foram para sempre, e Alec com Magnus, Clary
sentia como se os Lightwoods remanescentes fossem como convidados em
um hotel quase vazio. Ela desejou que os outros membros da Clave viessem
mais frequentemente, mas ela supôs que todos estavam dando aos
Lightwoods tempo neste momento. Tempo para se lembrar de Max, e
tempo para esquecer.
“Então, você ouviu algo sobre Alec e Magnus ultimamente?”, ela
perguntou. “Eles estão se divertindo?”
“Parece que sim”, Jace pegou seu telefone em seu bolso e estendeu
para ela. ”Alec continua me mandando fotos chatas. Um monte de textos
como, “Eu queria que você estivesse aqui, exceto que não de verdade.”
“Bem, você não pode culpá-lo. Era para ser umas férias românticas.”
Ela movimentou através das fotos no telefone de Jace e riu. Alec e Magnus
em pé em frente à Torre Eiffel, Alec vestindo jeans como sempre e Magnus
vestindo um casaco de pescador listrado, calças de couro, e uma boina
maluca. Nos jardins Boboli7, Alec ainda estava usando jeans, e Magnus
estava usando um enorme manto veneziano e um quepe de gondoleiro. Ele
parecia como o Fantasma da Ópera, em frente ao Prado, ele estava usando
um cintilante casaco de toureiro e botas de plataforma, enquanto Alec
aparecia calmamente alimentando um pombo ao fundo.
“Eu vou tirar isso de você antes que você chegue a parte da India”,
Jace disse, recuperando seu telefone. “Magnus em um sári. Algumas coisas
você nunca se esquece.”
Clary riu. Eles tinham alcançado o elevador que abriu seu portão
rangendo, quando Jace empurrou o botão de chamar. Ela entrou e Jace a
seguiu. No momento que o elevador começou a descer — Clary achou que
ela nunca se acostumaria ao recuar inicial antes que começasse a descer —
ele se moveu em direção a Clary na escuridão, e puxou ela para mais perto.
Ela colocou suas mãos contra o peito dele, sentindo os músculos fortes
debaixo de sua camiseta, a batida de seu coração embaixo dela. Na luz
sombreada, os olhos dele brilharam. “Lamento que eu não possa ficar”, ela
sussurrou.
“Não se desculpe”, Havia um tom irregular em suas palavras que a
surpreendeu. “Jocelyn não quer que você se torne como eu. Eu não a culpo
por isso.”
“Jace”, ela disse, um pouco perplexa pela amargura em sua voz,
”Você está bem?”
Ao invés de responder, ele a beijou, a puxando firme contra ele. Seu
corpo pressionou o dela contra a parede, o metal do espelho frio contra
suas costas, as mãos dele deslizaram ao redor de sua cintura. Ela sempre
amava o modo que ele a segurava. Cuidadoso, mas também não muito
gentil, não tão delicado, que ela sempre sentia que ele estava mais sob
controle do que ela estava. Nenhum dos dois podia controlar como eles se
sentiam um sobre o outro, e ela gostava disso, gostava do modo como o
coração dele martelava contra o dela, gostava do modo que ele murmurava
contra sua boca quando ela o beijava de volta.
O elevador veio em uma parada ruidosa e a grade abriu. Além dela,
ela podia ver a nave vazia da catedral, pedras enfeitiçadas alumiando em
uma fila de 7 Boboli Gardens – Fica na Itália.
Candelabros no corredor central. Ela se agarrou a Jace, feliz por que
havia pouca luz no elevador então ela não podia ver seu próprio rosto
queimando no espelho.
“Talvez eu possa ficar”, ela sussurrou. “Só mais um pouco.”
Ele não disse nada. Ela podia sentir a tensão nele, e ela mesma se
enrijecer — era mais do que apenas a tensão do desejo. Ele estava
tremendo, seu corpo inteiro tremendo enquanto ele enterrava seu rosto na
dobra de seu pescoço.
“Jace”, ela disse.
Ele então a soltou, subitamente, e deu um passo para trás. Suas
bochechas estavam coradas, seus olhos febrilmente brilhantes. “Não”, ele
disse. “Eu não quero dar a sua mãe nenhum motivo para não gostar de
mim.” Havia um tom em sua voz. “Ela já pensa que eu sou a segunda vinda
de meu pai—“
Ele se interrompeu, antes que Clary pudesse dizer: Valentine não era
seu pai. Ele era geralmente muito cuidadoso ao se referir a Valentine
Morgenstern pelo nome, nunca como meu pai — quando ele mencionava
Valentine. Geralmente eles se afastavam do tópico, e Clary nunca tinha
admitido a Jace que sua mãe se preocupava que ele fosse secretamente
como Valentine, sabendo que até mesmo a sugestão o machucaria
bastante. Na maioria das vezes ela fazia tudo que podia para manter os
dois separados.
Ele se afastou antes que ela pudesse dizer alguma coisa, e puxou
aberta a grade do elevador. “Eu te amo, Clary”, ele disse, sem olhar para
ela. Ele estava olhando para dentro da igreja, para as fileiras de velas
iluminadas, seus reflexos dourados refletidos em seus olhos. “Mais do que
eu jamais—“ Ele se interrompeu. ”Deus. Mas do que eu provavelmente
deveria. Você sabe disso, não é?”
Ela saiu do elevador e se virou para encará-lo. Havia uma centena de
coisas que ela queria dizer, mas ele já estava olhando para longe dela,
empurrando o botão que traria o elevador de volta ao piso do Instituto. Ela
começou a protestar, mas o elevador já estava se movendo, as portas
fechando atrás, enquanto ele chacoalhava seu caminho de volta acima. Elas
fecharam com um clique e ela olhou para elas por um momento; o Anjo
estava pintado na superfície dele, asas estendidas, olhos elevados. O Anjo
estava pintado sobre tudo.
Sua voz ecoou dissonantemente no salão vazio quando ela falou.
“Eu também te amo”, ela disse.